domingo, 23 de abril de 2017

Sublime Expiação (Magnificent Obsession) 1954

Sublime Expiação (Magnificent Obsession) é um remake do filme original de John Stahl feito em 1935 e baseado na novela homónima de Lloyd C. Douglas. Tanto o argumento como desenvolvimento da estrutura narrativa são bastante diferentes, uma vez que Sirk não acreditava na virtualidade cinematográfica do romance. A realização é igualmente substancialmente distinta, sobretudo pela introdução da cor que, obviamente não, existia na versão inicial. 
Sublime Expiação tem todos os ingredientes para ser um melodrama de sucesso. É um clássico filme dos anos 50, com uma história de amor, desencontro e redenção. Marca igualmente a terceira colaboração entre Sirk e Rock Hudson (que seria o seu actor emblemático durante grande parte dos seus filmes dessa década, aqui contracenando com Jane Wyman. Se Sublime Expiação tem todos os condimentos para se tornar num melodrama clássico (e é-o em grande medida), há sempre o toque especial com que Sirk impregna a generalidade dos seus filmes: a utilização profusa e quase desmesurada da cor, o artificialismo de alguns cenários e a sinuosidade das personagens. É certo que ao falarmos de redenção descobrimos uma personagem que é indirectamente responsável pela morte de quem o quis salvar, que provoca a cegueira da sua jovem viúva e que finalmente decide arrepiar caminho da sua vida de playboy rico e desdenhoso. A relação com a cegueira da protagonista marca um subtil desvio de Sirk para temas de cariz social (neste caso a deficiência visual) que se aprofundaria nos seus filmes posteriores, particularmente em Imitação de Vida. Mas a irrealidade do argumento (ao que parece Sirk confessou em entrevistas já depois da sua retirada, que detestava o livro), onde as personagens vão mudando, por vezes de forma radical e dramática, assim como o improvável final, contribuem para a grandeza do filme. De facto, o cinema em geral e o melodrama em particular, é um universo feito à medida dos nossos sonhos, onde o improvável é possível. De resto tudo no filme é perfeito; a direcção de actores, com destaque para Jane Wyman que foi nomeada para o Óscar de melhor actriz, a sequência da acção, que começando de forma muito rápida, vai-se progressivamente tornando mais lenta, à medida que as a trama se densifica, a integração da música de Frank Skinner e, sobretudo a excepcional fotografia a cargo de Russell Metty que mais tarde trabalharia em Spartacus de Stanley Kubrick. Acima de tudo ressalta o extremo cuidado visual e o controlo de todos os pormenores, mas isso é a imagem de marca de Douglas Sirk. 
 É o primeiro melodrama de Sirk que teve um forte impacto popular. Embora não seja um dos meus filmes favoritos do cineasta, reconheço que a partir deste momento, Sirk obteve aquilo que raros conseguem: fazer vingar as suas próprias ideias no coração da indústria de Hollywood sem fazer quaisquer cedências que desvirtuem a sua liberdade criativa.
* Texto de Jorge Saraiva.

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